Resgatei um animal abandonado e agora?
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Médicos-veterinários dão dicas para o resgate seguro e os cuidados com a saúde do animal
Em cidades de todo o País, é comum nos depararmos com animais soltos pelas ruas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 30 milhões de cães e gatos estejam em situação de rua no Brasil, sujeitos a maus-tratos, falta de alimento e abrigo. Sensibilizadas pela situação, muitas pessoas acabam levando esses animais para casa, sem saber ao certo a melhor maneira de ajudá-los.
Em virtude desse cenário, que impacta a saúde pública e o bem-estar animal, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) alerta para o problema do abandono e pondera como as pessoas devem proceder ao resgatar animais de rua.
Segundo a médica-veterinária Adriana Maria Lopes Vieira, presidente da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do CRMV-SP, ao recolher um animal da rua, a primeira medida deve ser levá-lo para uma consulta com um médico-veterinário, tomando todas as precauções no primeiro contato.
“É muito importante lembrar que, por se tratar de um animal desconhecido, ao realizar o manejo deve-se ter o máximo de cuidado para evitar acidentes ou agressões. Caso haja algum agravo causado pelo animal, a vítima deverá procurar atendimento médico o mais rapidamente possível”, orienta.
Eu (Ariane), desde pequena, resgato animais na rua. Na minha casa nunca compramos bichos de estimação e sempre tivemos gato, cachorro, tartaruga, tatu, peixe, galinha, coelho etc etc. Eu e meus irmãos sempre ganhávamos de alguém ou adotávamos. Meus pais sempre permitiram. O ato de acolher animais abandonados fazia parte da nossa educação – dar amor, receber amor, respeito, acolhimento.
Mesmo depois dos filhos adultos, vira e mexe meu pai chegava em casa com um gatinho no colo. Ele olhava para minha mãe e falava: “Apareceu, os cachorros iriam matar se eu não resgatasse”! A gateira da casa sempre fui eu. Os outros eram mais apegados com cachorro, tatu, tartaruga, peixe, cavalo, hahahaha. Tivemos também um cabrito, ninguém podia falar mais alto que ele achava que era brincadeira e dava cabeçada (risos).
Minha ultima adoção foi o Theodoro (in memorian), esse gatinho preto da foto abaixo. Resgatei ele na rodovia, ainda filhote, ele veio para me ensinar até o que eu achava que sabia, nossa conexão foi grande. A minha filha Melissa, uma gata persa, também foi adoção. Eu estava no salão, fazendo a minha unha, quando uma outra cliente chegou e falou que não poderia mais ficar com a gata, que já era adulta, tinha 2 anos. A manicure muito minha amiga perguntou se eu não queria o animal. Dei uma olhadinha nas fotos e já me apaixonei. Busquei no mesmo dia. A Mel completa esse ano 10 anos. Ela dorme em cima da cama, só bebe água geladinha e faz o pai dela, meu marido, de gato e sapato, ele obedece, faz tudo que a filhinha quer (risos).
Dicas para um resgate seguro
A médica-veterinária Rosangela Gebara, que integra a Comissão Técnica de Bem-estar Animal do CRMV-SP, diz que é comum as pessoas recolherem animais das ruas, resgatando-os de situações de extremo abandono e risco, e também alerta para os cuidados com a segurança de quem está ajudando.
“Aproxime-se com cuidado e deixe o animal se acostumar com você. Uma boa dica é oferecer comida ou esticar sua mão para que cheirem (cães). Se estiver em uma via movimentada, peça ajuda de um amigo ou de quem estiver passando para afastar o animal dos carros. Em estradas você pode pedir ajuda à Polícia Rodoviária para isolar a área e resgatar os animais com segurança”, ressalta a médica-veterinária.
Antes de pegar um cão ou gato desconhecido no colo, Rosangela recomenda providenciar uma coleira ou focinheira, especialmente se o animal estiver ferido. “Ou use um cobertor para envolver e carregá-lo em segurança, evitando mordidas e arranhaduras”, sugere.
Cuidados com a saúde do animal
Em geral, o estado de saúde de um animal encontrado na rua é desconhecido, assim como seu comportamento, observa Adriana Vieira. “É indispensável que este animal passe pela avaliação de um médico-veterinário antes mesmo de ser levado para o local onde passará a viver”, reforça.
O profissional poderá estimar a idade do animal, verificar se há infestação por ectoparasitas, lesões, sinais ou sintomas de doenças da própria espécie ou zoonóticas (transmissíveis aos seres humanos), manifestação de dor, dentre outros.
“Também pode ser verificado se há identificação por microchip e, se houver, pode tratar-se de um animal que esteja perdido. Poderão ser solicitados exames laboratoriais como apoio diagnóstico e o adotante receberá orientações quanto à alimentação, ao manejo, higiene, cuidados sanitários, controle reprodutivo, bem-estar, vacinas, dentre outros cuidados”, complementa Adriana.
Dê tempo à adaptação
Para Rosangela Gebara, depois de o animal ser resgatado e ter passado pelo médico-veterinário para a avaliação inicial, deve-se dar tempo para que ele se adapte ao novo ambiente. “O ideal após o resgate, se o animal não estiver ferido ou muito debilitado, é levá-lo para um lugar seguro e tranquilo, oferecer água e comida e observar”, orienta.
Quanto aos cuidados com pets mais ariscos, Adriana diz que algumas alterações de comportamento podem estar relacionadas a problemas orgânicos. “A agressividade, por exemplo, pode ser decorrente de desequilíbrios hormonais ou presença de dor. Assim, faz-se necessário que o médico-veterinário avalie se há alterações comportamentais e suas possíveis causas (orgânicas ou não) e a conduta a ser adotada”, explica.
Paciência e amor
Cães e gatos podem demorar semanas para se acostumar ao novo ambiente e a novas pessoas. “Se você resgatou um gato, tome mais cuidado ainda com fugas e acidentes. Se morar em apartamento, as janelas devem ser teladas” explica a médica-veterinária Rosangela Gebara.
Se o animal foi resgatado em uma situação de maus-tratos, ele pode ficar traumatizado por muitos dias. “Procure dar tempo ao tempo e, se for necessário, peça orientação a médicos-veterinários comportamentalistas ou a adestradores para fazer a socialização correta. Oferecer petiscos e ter muita paciência e amor ajuda nesta fase”, diz Rosangela.
Lar provisório
Se você não tem como ficar com o animal resgatado definitivamente, acolha-o como um lar provisório até conseguir uma família definitiva. De acordo com Rosangela, um lar provisório não tem que ser perfeito ou espaçoso. Basta ter uma área de serviço ou um cantinho no quintal, onde o animal resgatado possa se proteger do frio e do calor também.
Dá para improvisar uma cama com um cobertor ou moletom velho. “O ideal é alimentar com ração específica para a espécie, idade e porte. É importante deixar sempre água limpa e fresca à vontade”, orienta.
O CRMV-SP orienta que, ao encontrar um animal abandonado que não se possa adotar, entre em contato com a prefeitura para verificar se há algum serviço responsável pelo recolhimento ou cuidados com esses animais. Em algumas cidades, inclusive, existem programas comunitários voltados a esse tipo de cuidado.
Como ajudar um animal de rua
1. Aproxime-se com cuidado e tome as medidas de segurança necessárias;
2. Leve o animal ao médico-veterinário o quanto antes;
3. Verifique se o animal realmente não tem dono. Usar as redes sociais pode ajudar a descobrir se o animal está mesmo abandonado;
4. Caso não possa ficar com o animal, procure a prefeitura para saber se há algum serviço responsável pelo recolhimento ou cuidados com esses animais. Levar em feiras de adoção e ou pedir ajuda de ONGs para encontrar um novo dono pode ser uma opção;
5. Tenha paciência com a adaptação do animal e siga sempre as orientações do médico-veterinário.