DIA DO ESTUDANTE: Megera
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Todo mundo tem uma megera na escola. Pode ser a professora, a inspetora, a cozinheira ou a diretora. Vou contar pra vocês que a primeira megera da minha vida se chamava dona Rosa, a diretora da minha escola. Ela não tinha o polegar e sempre que vinha com a bronca apontava o “cotoco” do dedo pra gente. Eu morria de medo! Todo mundo morria! Hoje é dia do estudante e para homenagear cada um desses “guerreiros” (eu amo vários deles, até porque sou megera de muitos), aqui vai uma crônica da escritora Izabella de Macedo, que faz parte do livro “Mulheres Normais”.
*Izabella de Macedo
A primeira megera da minha vida tinha 6 anos e se chamava Camila. Nada contra as Camilas, apenas contra as megeras. Ela descobriu que eu ainda mamava na mamadeira antes de dormir, e acabou com a minha imensa reputação na escola na qual eu tinha entrado havia pouco mais de um mês. Foi por causa dela que comecei a roubar borrachas coloridas e cheirosas. As megeras-lindas-magras-comuniformeengomadinho-decabeloacheirosos riam de mim, por eu ainda mamar na mamadeira, e viam suas borrachas caras e lindas, rosas e aromáticas, sumirem de seus estojos ainda mais majestosos. Minha vingança era cruel. Comecei a ter um sem-número de borrachas coloridas e minha caixa escondida em casa atrás do Baby Dinossauro de pelúcia que ficava cada vez com mais cheiro de moranguinho. Mas minha vingança árdua e maldosa teve um fim rápido e certeiro. Não sei como, mas minha mãe descobriu. Um dia, voltando da escola, ela me perguntou: de onde vêm essas borrachas? Foi então que veio minha primeira mentira à autoridade superior: eu ganhei das minhas novas amigas da nova maravilhosa escola, que eu tanto já amo em poucos meses. Ela não caiu nessa. Me cutucou até eu esvair em lágrimas e passar também minha primeira grande vergonha: assumir em frente ao meu irmão que eu tinha roubado as borrachas. Ele riu maleficamente, como fazem os irmãos mais velhos quando não são eles os culpados da vez. Foi então que eu tive raiva dele a primeira vez. Tive que devolver as borrachas e aguentar, além da tiração de sarro de que eu ainda mamava, as malévolas me apontando como delinquente. Mal comecei na escola e minha reputação estava acabada: eu mamava e era ladra. Fiquei sem amigos, sem chão, sem moral e sem orgulho. Mudei de escola (mais de uma vez), mas as megeras estavam sempre lá. Elas sempre saíam ganhando, majestosas, cheirosas e — mais tarde — magras e bonitas e de autoestima elevada. Eu sigo enfrentando megeras. Elas estão sempre lá, a minha espera. Aposto que elas tomam suco verde em jejum e à noite passam todos os ácidos que a dermatologista mandou.
*Izabella de Macedo tem 30 anos, é curitibana, leonina, mãe, esposa, advogada e autora do livro de crônicas Mulheres Normais. É graduada em Letras e mestre em Direito.