Afinal, existe “mãe de pet”?

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Em maio, quando é comemorado o Dia das Mães (segundo domingo do mês) e Dia Internacional da Família (15), os debates sobre o tema tomam conta de grupos fechados e até mesmo em perfis de famosas nas redes sociais. Mães de animais também podem comemorar as datas? Eu sou mãe de uma gatinha, da Melissa Maria, e quem falar o contrario, não me importo na verdade, ela é minha filha e ponto (risos). Ela dorme na cama, sobe na mesa, na verdade ela faz o que ela quiser, eu e o pai dela obedecemos (risos de novo). Não sabemos educar, essa é a verdade! Mas na minha casa ela é a filhinha e nós os pais. A discussão não fica só na questão de o termo estar correto ou ser apenas uma força de expressão. São levantados argumentos político-sociais, biológicos, psicológicos e uma infinidade de pontos de vistas distintos, expressados com afinco pelos defensores da liberdade da mulher ser mãe de pet, mãe de planta ou do que desejar, e pelos que não concordam com a maternidade sendo usada para expor a relação com outra espécie.

Para explicar porque o debate é tão comum, a psicóloga Silvia Vasconcelos, especialista em psicoterapia familiar, propõe uma reflexão:

“É preciso ficar claro que quando alguém se refere à ou se autodenomina mãe de pet não está se comparando a quem gera biologicamente ou cria uma criança adotiva. Se isso faz, deveria saber que maternidade é mais do que ‘pôr no mundo’ e guiar os primeiros passos. A maternidade (assim como a paternidade) é mais que uma emoção acompanhada de responsabilidades, pois é muito complexa e uma experiência diferente para cada mulher. É bem delicado, mas muitas mães se frustram com a maternidade, sendo ela planejada ou não. Porém é muito importante pontuar que quando alguém usa o termo mãe de pet, de planta, o que for, está se referindo de maneira figurada e totalmente válida à palavra mãe, que é aquela que oferece cuidado, proteção, carinho e assistência a quem precisa”, explica.

A profissional aponta que um dos motivos para esta discussão ser tão recorrente é que nas últimas décadas houve uma mudança considerável na relação humana com os animais domésticos. “Antes, principalmente os cães, ficavam fora de casa, algumas pessoas apenas os tinham como forma de guardar os quintais e proteger de intrusos. Os gatos também eram criados de maneira mais despreocupada – cada um no seu lugar. Hoje em dia os pets fazem parte da família, ganham brinquedos, dormem dentro de casa e até fazem parte dos programas de lazer. Nem todos concordam com este tratamento mais ‘humanizado’ com relação aos pets, mas é uma tendência cada vez maior fazer dos animais companheiros da família. A aceitação de vários formatos de famílias também pode transformar, com o tempo, esta discussão obsoleta.”

Para completar, a psicoterapeuta explica que levar ao veterinário, preocupar-se com a alimentação, oferecer conforto e lazer, como todos os outros cuidados com o pet, é sinal de amor e carinho: “Muitas mulheres oferecem este amor e carinho de mãe para amigas, familiares, o próprio marido e não seria diferente com os bichanos e cãezinhos. Elas usam regras para educar, projetam cuidados e há esta troca de amor na relação. Mais importante que discutir se pode ou não pode ser mãe de pet ou de planta, é olhar e ver que o comportamento é saudável. Se for, não há problemas”. 

Sobre a insistência nesta discussão por parte de algumas pessoas, Silvia diz que faz parte da época polarizada que estamos vivenciando, principalmente na internet: Isto tem levado o debate de ideias a virar uma interminável discussão acalorada, onde cada um defende fortemente seus pontos de vista, separando as pessoas em grupos: os certos dos errados. Para não perdermos esta relação humanizada das conversas, o ideal mesmo é que todo debate tivesse a exposição de argumentos, com opiniões distintas sim, mas com respeito. Esta e outras discussões continuarão aparecendo enquanto não se respeitar a individualidade de pensamentos e experiências de cada pessoa”, conclui a especialista.

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