Entrevista: descubra seu estilo e não erre da decoração da casa

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Confesso para vocês que eu (Jousy) não sou muito boa com decoração de casa. Eu preciso de ajuda sempre, para qualquer coisa. Minha casa tem muita madeira e pouca cor (o que acho que está precisando mudar urgentemente). Até porque mudei para casa que construímos há dois anos e estamos terminando de pagar a construção para começar a pensar nos móveis. A Ariane, neste quesito, é completamente diferente de mim. Ela gosta dos detalhes. Ela ama escolher as peças e misturar estilos e tendências. Ela já sabe que na hora que eu tiver que redecorar minha casa é ela mesma que vai me ajudar, mas temos algo que divergimos: no estilo. Assim como no vestuário, o design de interiores também há um estilo predominante dentro de um ambiente. Agora, eu quero saber qual é o meu. Para isso pedi ajuda para os “universitários”. Na verdade, ela está bem longe de ser isso. A Maitê Orsi, da All Design, é uma designer de interiores responsável por grandes obras em todo o Brasil e a escolhida para fazer a gente entender qual o estilo da nossa decoração.

A entrevista foi gostosa e de um aprendizado enorme. Ela listou os principais estilos usados, hoje, no design de interiores. Falou de como podemos combinar nosso estilo com as tendências e como as cores podem ser escolhidas. Confesso para vocês que fiquei animada para mudar tudo na minha casa e começar a usar todos os estilos que eu me identifiquei. Eu achava que meu estilo fosse contemporâneo, mas eu vi que ele está mais para o clássico.

E você? Qual o estilo predomina na sua casa? Quer saber? Leia a entrevista completa com a designer de Interiores, Maitê Orsi. Ela dá uma aula de arquitetura, design e história. Vale a pena toda a leitura!

 

Revista Segura: Qual estilo prevalece no design de interiores no Brasil?

Maitê Orsi: Há pelo menos três estilos mais relevantes em ocorrência no Brasil, que são o contemporâneo, o clássico e o rústico, para resumirmos e de modo geral. O estilo predominante varia de região para região e se estamos falando de capitais, interior, campo ou cidade.

Podemos dizer que estilo predominante depende de clima, região geográfica e influências culturais do lugar. Dando um giro pelo mundo, por exemplo, nos Estados Unidos o que é considerado de muito bom gosto lá, aqui soará um pouco demais, dada a forma de expressão e gosto predominante lá. Neste caso, não há como dizer se um é melhor que o outro e sim que cada um tem suas características próprias.

Na Europa vemos muito o estilo clássico com influência contemporânea, escandinavo, industrial e minimalista. Já na parte oriental do mundo, temos mudanças bastante consideráveis em se tratando de estilo, inclusive na preferência de cores e seus significados.

Por exemplo, na Ásia o branco é uma cor que representa luto.

 

Revista Segura: Nosso país acompanha o que acontece lá fora ou tem alguma peculiaridade?

Maitê Orsi: Ficamos sujeitos às tendências que são anualmente anunciadas, seguimos influências de estilos predominantes sim, mas tudo tem que ser adaptado já que a relação de materiais e ideia de conforto muda em relação ao hemisfério, em relação à cultura.

A diferença de clima é um dos fatores preponderantes, pois no hemisfério norte o frio é mais intenso e duradouro, já no nosso hemisfério sul, o calor é predominante.

Nesta questão de acompanhar o que acontece lá fora, há um ligeiro delay ou atraso em seguir as tendências, pois primeiro acontece lá e através dos eventos e feiras do setor as tendências transitam pelo mundo e é claro que temos o sentido inverso acontecendo também, pois temos ótimos designers e também influenciamos parte do mercado com nosso regionalismo.

 

Revita Segura: Como eu sei qual é o meu estilo no Design de Interiores?

Maitê Orsi: Primeiro devemos conceituar os principais estilos para termos um conhecimento e ver o que está presente em cada um deles, como ele se apresenta em linhas gerais. Essa conceituação vai nos ajudar a avaliar onde as nossas preferências estão, elas vão começar a ser conhecidas para nós.

 

Revista Segura: Podemos falar de cada um deles?

Maitê Orsi: Claro! Temos o Contemporâneo e o moderno que se caracteriza pela pelas linhas retas, cores claras, muito branco e madeira, com algum toque de cor forte. Contemporâneo significa atual, recente, novo. Já o modernismo é uma denominação do movimento representado por Mies Van der Rohe, Le Corbusier, Escola Bauhaus, Niemaye etc. O estilo nasceu em oposição ao Neoclássico, que era o estilo que predominava na época, no final do século XIX e perdurou até inicio dos anos 80. É caracterizado pela simplicidade, espaços vazios, linhas retas, cores claras e paleta de poucas cores.

Temos o Clássico que se caracteriza por uso de peças clássicas, lustres de cristal, tapeçaria, adornos em dourado. O clássico de hoje é fortemente influenciado pelo contemporâneo. Não podemos esquecer que o clássico é opulento e sofisticado, permite livremente peças em dourado, boiseries e tem como referência a cultura greco-romana.

O terceiro é Rústico ou campestre ,que se caracteriza por uma atmosfera de campo, predominância de uso de madeira, paleta neutra, elementos naturais como tijolo aparente. Muitas vezes a madeira se apresenta com acabamento mais rústico, o tijolo e a pedra também.

Tem ainda o Escandinavo, que se caracteriza por criar ambientes aconchegantes, atmosferas leves, cores claras, predominância de design nórdico no mobiliário. Tudo chama ao aconchego, os materiais são táteis, gostosos de tocar, plantas estão sempre presentes.

O Japandi, que parece um pouco com o escandinavo, mas na parte de acessórios. Fica mais marcado pela influência oriental, como luminárias ou lanternas orientais, portas de madeira com vidro opaco, papel arroz e arranjos Ikebana.

Há ainda o Industrial que se caracteriza por ausência de forro, instalações aparentes, preto e cinza, estruturas metálicas. Esse estilo nasceu em  razão de transformações de galpões industriais em moradia em Nova York, os famosos lofts com sua integração de espaços.

O Minimalismo ou Clean se caracteriza pelo essencial, nada fica como puramente adereço, as formas são valorizadas, poucos objetos. O estilo começou no pós-guerra e com a escassez  a característica era clara, depois tomou um ritmo também de ser uma filosofia de consumo, buscando apenas o essencial. A oposição ao minimalismo, que se caracteriza por ter-se apenas o essencial, está o maximalismo, que permite espaços abarrotados de objetos e informações visuais.

O estilo Tropical se caracteriza por estampas fortes, cores marcantes, muitos elementos da natureza tropical. Estampas de folhas, fauna e flora com todo o seu colorido.

É preciso ficar atento a cada estilo que falamos, anteriormente, para ver o que te representa mais. Mas, também precisamos falar de um estilo que permite fazer um mix de muitas tendencias com liberdade de expressão que é o eclético.

O Eclético onde também dá para incluir o Boho, caracterizados pela liberdade de misturar oriente com ocidente, cores, novo e antigo. Contrastes surpreendentes, misturas inusitadas, mas fazendo sentido no conjunto. Normalmente ouvimos o termo Boho Chic, pois a origem deste estilo veio da cultura hippie, quando trazemos para a casa, ele recebe um tratamento mais elaborado.

Agora tenho que falar do Vintage e retrô, que se caracteriza por ter peças consagradas de design no século XX e são sempre referência ao tempo passado. O vintage usa móveis do intervalo de tempo no século XX, entre as décadas de 20 e 80 que são designs consagrados produzidos nesta faixa de tempo. Já o retrô fala de estilos passados ou mesmo de um revival ao estilo rock and roll como sendo uma referência saudosista de um período passado.

 

Não posso esquecer do Provençal e Romântico, estou falando de ambos para citar o estilo que se desenvolveu na região francesa de Provence e pretendia trazer algo da decoração palaciana para casas pequenas e poucos recurso. Ainda é muito apreciado, embora seja bastante antigo pois surgiu no ano de 1.700. Já o romântico surgiu no período de 1800, na Europa, leve, suave, feminino. Caracterizado pelos babados, laços em tons pasteis, muito usado para quartos.

 

Revista Segura: Você listou um monte de estilos. Mas, ficou mais claro, agora, para identificarmos todos eles nos ambiente. Ainda tem outros?

Maitê Orsi: Sim. Listei aqui os estilos que mais se usa no momento, após uma boa análise de cada um, por exclusão, você vai poder se encontrar em um deles, pois é um processo de auto conhecer as suas preferências e o que faz sentido para você. Quando escolhemos um estilo é como dizer que no teatro da vida desejamos um tipo de cenário do ponto de vista de aparência, mas claro os ambientes tem além de aparência muitas outras funções importantes, como funções, cores e atmosfera, conforto termo acústico, iluminação entre outras. O estilo também é a forma que queremos ser vistos.

 

Revista Segura: É possível uma pessoa usar vários estilos com várias peças diferentes dentro de um ambiente e mesmo assim conseguir harmonia?

Maitê Orsi: Sim é possível, mas devemos lembrar que quanto mais liberdade maior a responsabilidade.

Ao misturar épocas diferentes, linguagens, cores, materiais você tem que fazer tudo na medida certa, pois no conjunto tem que ficar belo, aconchegante e harmonioso.

Detalhando melhor, quando você fala em um estilo tem as regras básicas para te nortear como o clássico por exemplo, ele tem uma receita para dar aquele resultado, mas quando não se tem um  cânone ou um conjunto de regras como é o caso do eclético ou mesmo o boho, precisa haver mais cuidado para não errar na dose, pois embora haja muita liberdade não se pode fazer disto um caos, o conjunto da obra tem que ficar harmonioso pois este é o objetivo. O maior cuidado é que embora seja um conjunto de diversidades, tudo deve fazer sentido e torna-se aconchegante.

Revista Segura: Nas roupas nós temos várias pecas que não saem de moda e que são inspiração até hoje para o que se cria. Podemos dizer que no Design de Interiores também é assim? Você pode dar exemplos.

Maitê Orsi: Muitos estilos criaram “escolas” pela nobreza e beleza, o estilo clássico é um exemplo. Também os designs de móveis consagrados criados no século XX, como por exemplo a cadeira Barcelona. Quando você coloca no ambiente um destes designs consagrados, a noção de qualidade se eleva.

O estilo retrô se caracteriza em copiar peças antigas como replicas de qualquer época onde não se usa peças originais, até porque muitas vezes peças originais de antiquário tem preços bastante elevados em comparação a uma réplica.

Outro exemplo de estilo muito querido de muitos é o provençal, originário na região da Provence, sul da França por volta do ano 1700, foi a tentativamente de habitantes locais tentarem copiar o luxo palaciano com poucos recursos. O resultado foi um sucesso e é até nos dias de hoje.

Revista Segura: O estilo da pessoa também reflete na cor que se escolhe?

Maitê Orsi: De algum modo sim, a preferência de cor tem muita ligação com o estilo escolhido. Por exemplo, uma pessoa que prefere uma atmosfera mais contemporânea, gosta de tons médios de madeira, cores claras e que pode ter detalhes em tons fortes com certeza, mas em menor quantidade. A cor é um elemento muito pessoal e poderoso, sua colocação neste ou aquele estilo pedirá bom senso e equilíbrio sempre.

Revista Segura: Como combinar meu estilo com as tendências?

Maitê Orsi: Uma vez você sabendo o seu estilo, conhecendo as suas preferências, a tendência pode ser aplicada com cuidado, pois em se tratando de interior é ótimo se ter em mente que geralmente não fazemos um projeto ou troca de móveis todo ano.

Podemos incluir detalhes com a cor do ano, por exemplo uma pequena peça de mobiliário facilmente reestofada, almofadas decorativas ou objetos que podemos facilmente trocar. Lembrando que a tendência é anual, tem data para começar e terminar, porém se o conjunto ficou harmônico, as peças introduzidas não adequadamente, podem ficar bem por muito tempo.

Revista Segura: A pessoa que quer redecorar a casa e não sabe muito bem qual é o seu estilo, o que deve fazer primeiro?

Maitê Orsi: O que recomendo é que se pesquise sobre estilos e esta entrevista pode ser um passo para este autoconhecimento (também acho, Maitê – Jousy falando) e assim possa ter uma ideia consistente de como cada estilo se apresenta para fazer uma boa escolha.

Escolher cores de preferência, ver se elas formam um bom conjunto, se se harmonizam bem e aplicar cada uma em proporções adequadas. A melhor opção é ter um bom projeto de interiores em mãos, pois ele já trará todas as informações necessárias para o bom andamento da reforma ou montagem do ambiente com estilo definido e tudo em harmonia.

Um projeto profissional ainda é o meio mais seguro para um bom resultado visual, em funcionalidade, em cores e sobretudo com os melhores preços pois com este projeto em mãos as cotações de preços serão fidedignas e assim pode-se orçar o ambiente ou ambientes com exatidão e termos como comparar cada um, negociar e ter base para qualidade.

Lembrando que ter uma casa bela, organizada, funcional, que te atenda em detalhes não é luxo, é uma forma de viver de modo mais saudável e obter bem-estar, bem como resolver muitos problemas causadores de estresse que nos tiram a paz e a saúde indiretamente.

E para fecharmos a questão de estilo, convido a cada uma estudar sobre o tema, buscar suas referências, pois isto também é autoconhecimento, que propiciará maior bem estar em seus ambientes.

Revista Segura: Nossa entrevista foi muito rica, mas você tem algo mais a acrescentar?

Maitê Orsi: Para concluir, vamos à reflexão: de que vale a tendência se ela não conversa com a sua essência? Portanto, mãos à obra! Busque as soluções, estude, se questione e se puder contrate um projeto de qualidade. Se não puder, não desista. Estude e se encontre, pois vale muito a pena ter uma casa bela, que te faça manifestar seu melhor modo e que te atenda em detalhes.

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