Milton Hatoum: “Sempre sonhei com a leitura dos meus livros pelos jovens”

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Autor de “Dois Irmãos”, obra indicada para o vestibular da Fuvest, participou da Sessão

Vestibular da FIL, na Fábrica – Instituto SEB


 O escritor Milton Hatoum participou, nesta quarta-feira (24/08), do segundo dia da Sessão Vestibular, na Fábrica – Instituto SEB, dentro da programação da 21ª FIL – Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto. Falando on-line, Hatoum debateu com o público sobre sua obra “Dois Irmãos”, indicada para o próximo vestibular da Fuvest. A conversa foi mediada pelos professores Luiz Cláudio Jubilato e Felipe Vilela Marcolino, e alunos do projeto Nau Vestibular.

“O livro tem sido indicado em várias listas do vestibular e para mim é uma grande honra e a realização de um desejo pessoal, pois sempre sonhei com a leitura dos meus livros pelos jovens”, disse Hatoum, que refletiu sobre a prática de muitas escolas em fazer resumos das obras para os vestibulandos: “É impossível um resumo de três páginas traduzir toda a narrativa de um livro de 200 páginas. É difícil ler sete, oito livros para o vestibular? Não sei, mas ler este volume em um ano acho bastante razoável. O que falta é as escolas e bibliotecas investirem no livro, disponibilizarem aos seus leitores”.

A Sessão Vestibular terá mais dois encontros. Na quinta-feira (25), Bernardo Carvalho fala sobre sua obra “Nove Noites”. Na sexta-feira (26), Marcello Gugu aborda a obra “Angústia”, de Graciliano Ramos. Os eventos ocorrem das 9h30 às 11h, na rua Mariana Junqueira, 33, com entrada gratuita.

Fascinante e melhor que novela

Levar a história do Brasil para dentro das casas e estimular o interesse das pessoas por ela é a grande motivação de pesquisa e escrita de Mary Del Priore, historiadora e escritora, convidada da FIL para a Sessão 200 Anos. Na tarde desta quarta-feira (24), em conversa direta e descontraída com o público, Del Priore falou sobre o processo de produção da sua série de livros “História da Gente Brasileira”, em que faz um mergulho na história brasileira a partir de informações que sempre foram colocadas em segundo plano pela narrativa oficial, como os hábitos e a vida cotidiana do povo. “A história tem essa riqueza de abrirmos portas e descobrirmos pessoas com vidas como as nossas. E a história do Brasil é um romance fascinante, cheia de personagens que tratam e falam de tudo. É muito melhor que qualquer novela. Vale a pena conhecer”, pontuou Mary Del Priore.

Entre as várias curiosidades trazidas pela historiadora estão fatos como o letramento dos escravos no século 19, o contingente importante de negros estudando na Universidade de Coimbra também no final do século 19, a solidão e o sofrimento da imperatriz Leopoldina como mulher, a fundação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por um afro-mestiço, o papel e a influência da Inglaterra na história nacional e a feminização das universidades e de alguns setores profissionais na segunda metade do século 20.

Do outro lado da feira, no Estande da Prefeitura, alunos da EMEF Professora Elisa Duboc apresentaram e explicaram seus experimentos científicos de eletrostática, de transformação de energia química em energia elétrica utilizando ácido de frutas e outros estudos, todos resultados do Projeto de Recuperação Paralela, realizado pela escola. Interdisciplinar, a iniciativa tem o objetivo de estimular a escrita e a leitura dos alunos a partir de vivências práticas na área de ciências.

Logo depois, a Semana de Arte Moderna de 1922 voltou à agenda do dia na FIL, com a participação da professora Maria Eugênia Boaventura trazendo ao público um panorama geral do que foi, quais as motivações, os principais articuladores e os reflexos da Semana de 22 na sociedade brasileira. “Foi um projeto de um grupo de intelectuais paulistas atrelados a uma elite que queria transformar São Paulo no Estado que ele é hoje, descentralizando a produção cultural do Rio de Janeiro, onde as coisas ocorriam de forma isolada”, explicou a professora que pesquisa o Modernismo na Unicamp e é autora do livro “22 por 22: A Semana de Arte Moderna vista pelos seus contemporâneos”.

No trabalho, Maria Eugênia aborda tanto o lado favorável e os apoiadores do evento como seus críticos e opositores. Ela também comentou a natureza da linguagem artística, o projeto estético e a estratégia dos modernistas de fazer da Semana de 22 uma festa para anunciar o movimento que viria em seguida, em diferentes linguagens culturais. A professora ainda lembrou que a clássica imagem dos modernistas na escadaria de um hotel em São Paulo foi tirada dois anos depois, porque não houve registro fotográfico do evento.

Entre os destaques da noite, a música, a literatura e a educação estiveram no eixo da programação. O Duo de Acordeons formado por Gilda Montans, Meire Genaro fez uma apresentação musical e literária com a participação da escritora Eliane Ratier no espaço Ambient de Leitura. No repertório, músicas de Villa-Lobos e poemas de Mário de Andrade. No auditório Meira Júnior,  foi realizada uma homenagem à escritora educação desta edição, Magda Soares, na presença do educador português José Pacheco com mediação de Marlene de Cássia Trivellato Ferreira e Marília Ferrante Marques Scorzoni. A Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto encerrou a programação com um espetáculo comemorativo aos 100 anos de sua trajetória na cidade, com regência do maestro Reginaldo Nascimento. A 21ª Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto segue até domingo (28) e a programação completa pode ser acompanhada pelo endereço https://www.fundacaodolivroeleiturarp.com/.

 

Sobre a Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto

A 21ª edição da Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto acontece de 20 a 28 de agosto deste ano traz como proposta de reflexão o tema “Do Caburaí ao Chuí: a força da Literatura Brasileira”. A proposição embasa todas as atividades e debates do evento.

Neste ano, a FIL oferece uma programação com atividades presenciais e outras em formato on-line, reunindo palestrantes e participantes de diversas localidades.  Todas as atividades são gratuitas e abertas à população. São salões de ideias, conferências, palestras, mesas-redondas, oficinas, shows, espetáculos infantis, performances, contações de histórias, saraus e projetos educacionais, entre outras.

 

Sobre a Fundação

A Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, responsável pela realização da Feira Internacional do Livro da cidade, hoje considerada a segunda maior feira a céu aberto do país.

Com uma trajetória sólida, projeção nacional e agora internacional, ao longo de seus 20 anos, a entidade ganhou experiência e, atualmente, além da feira, realiza muitos outros projetos ligados ao universo do livro e da leitura, com calendário de atividades durante todo o ano. A Fundação do Livro e Leitura se mantém com o apoio de mantenedores e patrocinadores, com recursos diretos e advindos das leis de incentivo, em especial do Pronac e do ProAc.

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