Viúvas da Covid-19 fazem apelo à população

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Elas perderam seus companheiros, tiveram a doença e dizem

que o pior da vacina é que ela não veio a tempo de salvá-los

 

Elas são concunhadas, ficaram viúvas durante a pandemia da Covid-19. Seus maridos eram irmãos. Os dois, que tiveram a doença, morreram com uma diferença de 35 dias, do falecimento de um para o do outro. Maria Aparecida dos Santos Montanari, e Helena Adevanir de Carvalho Montanari, ambas com 66 anos, perderam Hélio Montanari (conhecido como Lelé), com 72 anos, e Mário Tadeu Montanari, 69 anos, respectivamente. As duas emocionaram essas duas jornalistas do Segura Na Minha Mão, que não conseguiram conter as lágrimas, ao ouvirem o relato da dor de duas mulheres que há pouco receberam a vacina, pelo Projeto S, em Serrana (SP), mas não puderam comemorar como queriam, já que o imunizante chegou tarde para seus companheiros.

A morte dos dois, com tão pouco tempo de diferença, abalou a cidade. Vou falar pra vocês que pra mim (Jousy) foi uma tristeza imensa. Os dois são primos do meu sogro e eu tenho uma relação de carinho muito grande com essa família (já que é minha também). Os dois eram pais zelosos e companheiros de verdade, daqueles que estão sempre presentes. O vô Lelé era dos meus filhos também, já que eles costumavam brincar de domingo na casa dele e comer do churrasco do melhor churrasqueiro da cidade. Lelé e Tadeu eram amor, afago e família!

Tanto Aparecida quanto Adevanir também foram acometidas pela Covid-19, mas elas tiveram mais sorte. “Eu não senti nada. Fui assintomática”, diz Aparecida. “Eu tive dor de garganta, febre e muita dor nas costas”, diz Adevanir apontando para os rins. Já com os esposos a situação foi bem diferente. Lelé teve uma tosse, mas não teve febre, nem dor de cabeça e não perdeu o paladar. A tosse persistiu. “O Rodrigo, meu filho, já queria levá-lo ao hospital, mas ele não quis ir. Na terça como ele não tinha melhorado, eles foram, e ele não voltou mais. Ficou dois dias no quarto e no terceiro foi para a CTI e já entubou. Não conversei mais com ele. Foi tudo muito rápido. Em dez dias o Lelé foi embora”, conta emocionada Aparecida.

“O Tadeu amanheceu com jeito de gripe. Perguntei se ele estava sentindo alguma coisa e ele respondeu que não. O tempo todo ele ficava, ao meu lado, me ajudando. Ele me ajudou até a limpar a casa. Fui fazer almoço e ele foi sentar na sala. Pus o termômetro nele e estava com um pouco de febre. No mesmo dia, levei-o ao médico e já foi medicado como Covid.  Ele estava com sintomas bem leves, gripe seguida de febre baixa, nada demais. No domingo, ele falou que estava com dor no estômago e começou a vomitar. Levamos para o hospital e a saturação estava baixa e não conseguiram controlar. Fez exame e o pulmão estava limpo. Ele tomava banho sozinho, não teve falta de ar, mas, como não estava melhorando, o médico achou melhor ir para o hospital de Ribeirão Preto. Repetiram os exames e já estava com  50% do pulmão tomado. A partir daí as notícias que vinham, eram cada vez piores, precisou fazer hemodiálise. Até que ligaram para o meu menino e falaram que iriam entubá-lo, mas antes o médico ia fazer uma chamada de vídeo para a gente conversar com ele”, lembra com lágrimas nos olhos Adevanir, sobre a  última vez que falou com seu companheiro de uma vida.

“Ele falou com os dois filhos, quando chegou a minha vez ele fechou os olhos. Fiquei desesperada, e pedia para ele abrir, perguntava se  estava me ouvindo. Ele ainda balançou a cabeça e abriu o olho. Continuei falando com ele, que ficou com os olhos paralisados me olhando”, conta Adevanir em detalhes da despedida do marido.

No depoimento das duas é possível perceber que a Covid-19 é uma doença silenciosa e rápida. Os dois morreram em menos de duas semanas, desde os primeiros sintomas até o dia que a família soube que eles nunca mais voltariam para casa. Edevanir e Aparecida são moradoras da cidade de Serrana, e já foram vacinadas pelo Projeto S e se sentiram honradas em fazer parte da pesquisa do Butantan.

Mas, a tristeza bateu ao lembrar que a Coronavac poderia ter vindo antes.  “Eu falei para enfermeira que fiquei sentida porque ele não estava ali tomando a vacina comigo, de não ter dado tempo para ele. Tenho certeza que se ele tivesse tomado, estaria aqui comigo”, conta Edevanir, que com a concunhada deixa uma mensagem para a população serranense.

“A vacina não dá sintoma, só dá alegria. O que importa é que nós fomos privilegiados. Isso é de Deus. Temos que agradecer. É triste porque nossa cidade é pequena e teve tanta gente contaminada, mas tivemos esse privilégio. Não deixem de tomar essa vacina. Tirem de exemplo a nossa família, minha e da Cida, que é uma só família. Nós perdemos dois e sei de muitas outras famílias que perderam seus entes queridos. Então, quem tiver a oportunidade, tome a vacina”, fala quase implorando Edevanir. “Só quem perde é que sabe o quanto é triste. Vocês não imaginam a dor que a gente sente, então tomem a vacina”, acrescenta Aparecida.

A família das duas, desde o começo da pandemia, mantinha o isolamento social, usava máscaras, álcool em gel e quando perguntadas de onde veio à doença, uma começou a responder e a outra completou: “Não sabemos de onde ela vem. Só que ela chega”.

 

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