Setembro Amarelo: obstetras são fundamentais no combate à depressão pós-parto
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No mês em que se coloca em questão os cuidados com a saúde mental, profissionais da obstetrícia fazem alerta e explicam comportamentos psicológicos das gestantes que devem ser tratados
O “Setembro Amarelo” é a campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. No Brasil, foi criado em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), com a proposta de associar a cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, 10 de setembro. A ideia é pintar e estampar o amarelo nas mais diversas ações e garantir visibilidade à causa.
Para Flávia do Vale, ginecologista obstetra, o trabalho do médico é fundamental nos casos de prevenção do suicídio e deve se iniciar no pré-natal. “Existem pacientes que já possuem fatores de risco passíveis de serem identificados no pré-natal. Assim, a pessoa já tendo um histórico de problemas anterior, como depressão, uso de antidepressivos ou gestação não desejada, já possui um risco maior de desenvolver a depressão pós-parto também”, destaca a médica.
Segundo a especialista, outro papel fundamental da atuação do obstetra vem, justamente, logo após o parto. De acordo com ela, é muito comum as pacientes apresentarem uma tristeza nessa fase. “É algo normal, porém diferente de uma depressão. Acredito que falta aos obstetras passar esse ponto de vista às pacientes. É natural a paciente se sentir insegura em relação à amamentação, à novidade em receber o bebê. Isso se associa a uma falta de sono, pois o bebê dá trabalho nos primeiros dias”, salienta.
A doutora explica, ainda, sobre o processo de alteração hormonal pelo qual a mulher passa durante a gestação, contribuindo diretamente para a tristeza comum do pós-parto, o chamado baby blues. “Nos primeiros dias após a chegada do bebê, é comum a mulher chorar, ficar nervosa, ansiosa, se questionar se vai dar conta. Se faz extremamente importante falarmos isso quando a paciente recebe alta e é encaminhada para sua residência. É necessário esclarecer esse aspecto para que ela não se sinta menos mãe por isso e saiba diferenciar essa situação de uma depressão pós-parto. Isso é o baby blues acontecendo, geralmente na primeira semana pós-parto, com curta duração”, esclarece.
Depressão pós-parto
No Brasil, a média de suicídio a cada dia é de 32 casos, conforme a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Casos entre adolescentes têm aumentado a cada ano, e se estende às mães. Entre 2011 e 2018, houve um crescimento de 10% nas taxas entre jovens de 15 a 29 anos no país, segundo o perfil epidemiológico divulgado em setembro de 2019 pelo Ministério da Saúde. No Ceará, por exemplo, entre janeiro e julho de 2020, foram contabilizados 306 casos na plataforma Integra SUS, da Secretaria da Saúde (Sesa). A média corresponde a 43 suicídios por mês, uma das maiores do país.
A doutora Flávia acredita que o médico assistente cria intimidade com a paciente durante o pré-natal e isso ajuda a identificar um quadro de depressão que pode, inclusive, provocar pensamentos suicidas.
“Na depressão pós-parto, a paciente vai deixar de cuidar do bebê, perder o interesse em cuidar da cria e de si mesma, ficando sem força, não querendo tomar banho, não querendo pegar o bebê no colo. Somados a esses sintomas, também irá rejeitar amamentar e pode até ter pensamentos suicidas, tanto de terminar com a própria vida quanto de fazer mal ao bebê. Ela perde a paciência enquanto o mesmo chora e tem pensamentos perversos. Daí a relevância do obstetra em explicar para a paciente e seus familiares sobre tudo que é normal ou não, visando identificar possíveis fatores de risco e sinais de alerta, comunicando-se com a equipe especializada de psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais”, diz.
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