Renata Monteiro: a perda de um filho e a força para continuar

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Nós falamos para vocês que íamos contar história de algumas mulheres guerreiras e lindas que de alguma forma conseguem mudar o mundo à sua volta. Não queremos dessa vez grandes empreendedoras ou mulheres que construíram impérios. Por mais que gostemos dessas histórias, dessa vez o foco são as mulheres simples, que trabalham, que estudam, que “matam um leão por dia”, e mesmo assim são inspiração.

Vou começar pela Renata Monteiro, confeiteira, 42 anos e moradora da cidade de Serrana (SP). A protagonista da nossa história é formada em Biotecnologia, mas deixou uma carreira que podia ser promissora para desempenhar aquela que ela diz que mais a realizou: a de ser esposa do Cristiano e mãe de três lindos meninos (quem a conhece vai falar que são dois, mas ela insiste que são três). Vou começar pelo meu próprio relato: toda vez que eu converso com a Rê ela consegue acalmar meu coração. As palavras dela são tão fortes e verdadeiras que é impossível não se apaixonar pela sua verdade.

Todo mundo conhece a Renata como a esposa do Cristiano, que trabalha na Copercana. Eu a conheci, na minha adolescência, como Renata Caloi. A menina que gostava de vôlei e que sempre amou a vida, mas ela insistiu que era preciso começar a contar bem antes. “Não tem como eu começar a falar sobre mim sem antes falar sobre a mulher que fez eu ser quem eu sou. A pessoa que me ensinou a ter fé, a acreditar sempre em Deus: a minha mãe”, esclarece.

A INSPIRAÇÃO

A dona Neusa começou a lutar pela vida quando a Renata tinha apenas 3 anos de idade. Ela descobriu que tinha um problema na válvula mitral do coração. “Eu sempre tive muito medo de perder minha mãe. Todo o pouco dinheiro que meu pai ganhava trabalhando na usina era para o tratamento dela. Era uma vida muito simples e aprendi que tinha que ajudar meus pais, logo cedo. Contávamos com a ajuda de muita gente, amigos, vizinhos e da família. Deus sempre foi muito generoso com as pessoas que nos rodeavam. Meu pai sempre foi um homem maravilhoso que até hoje me fortalece todos os dias”, explica.

                                                                     Renata e a mãe Neusa

Por conta do problema no coração, as atividades de dona Neusa sempre foram limitadas, mas ela não perdia a fé.  “Minha mãe chegou a ficar 40 dias na UTI por conta de uma cirurgia que ela fez e não deu muito certo. Ela teve um derrame pleural e achamos que fossemos perdê-la, mas Deus não deixou”, diz aliviada a filha de dona Neusa que até hoje vive com o problema. “Já melhorou muito, porque anos depois disso, acho que eu tinha entre 17 e 18 anos, ela fez uma valvuloplastia com um médico que veio do exterior e trouxe uma técnica nova para o Brasil. Ele conseguiu desentupir 80% da válvula mitral do coração dela”, conta

O amor e a admiração da Renata por dona Neusa é tão grande que ela fala sem parar da mãe e de tudo que ela representa na vida de sua família. “Minha mãe já passou por muito mais coisas que não dá pra eu contar tudo em um dia. Ela nunca quis me deixar sozinha no mundo e eu pedia muito por um irmão. Como a cirurgia não deu muito certo, os médicos deram pouco tempo de vida para ela. Lembro o quanto ela rezava para viver, pelo menos, até eu ficar grandinha”, relata.

Quando a protagonista de nosso relato tinha apenas 6 anos, começou a pedir por um irmão. Foi então que a mãe a ensinou a clamar com fé. “Lembro que minha mãe me levava à igreja para adorar o santíssimo às quintas-feiras. Morava longe e íamos a pé naquele sol quente. Ela pedia por saúde, pedia a Deus que eu não ficasse sem ela, porque eu era muito pequena, e que ele me desse um irmão. Minha mãe é devota também de Nossa Senhora das Graças e Santa Luzia”. Como os milagres que aconteciam na família de Renata, o irmão (Nelson Renato) veio, quando ela tinha 7 anos de idade.

O sofrimento de dona Neusa não ficou apenas no seu coração. Ela teve que tirar a tireoide, teve uma trombose , precisou tirar a safena e desenvolveu reumatismo quando a avó de Renata faleceu. “Quando achávamos que estava tudo sob controle, minha mãe teve perfuração de intestino e foi internada às pressas, um problema que voltou dois anos depois com uma inflamação que resultou em uma cirurgia, antes que houvesse a perfuração novamente”.

Além disso, o irmão de Renata deu um susto em todos, com um problema na visão, que foi resolvido, segundo ela, com muita oração e a intersecção de Nossa Senhora das Graças e Santa Luzia (que a mãe rezava para que ele não precisasse fazer as inúmeras cirurgias que os médicos diziam que ele teria que fazer para curar o problema. Um procedimento apenas resolveu).

 A MAIOR DOR DA VIDA

Renata conheceu Cristiano com 15 anos. Namoraram e casaram em 2002. Tiveram o primeiro filho 7 anos depois. Dessa relação linda nasceram três filhos: O Eduardo (Dú), o Otávio e o Henrique. Em 2017, ela tinha apenas o Eduardo com 7 anos e o Otávio, com dois anos e quatro meses. Em um domingo atípico de janeiro, ela perdeu o filho caçula afogado na piscina de sua própria casa. “O que aconteceu comigo era tão terrível que eu via o desespero da minha dor no rosto das pessoas. Eu não me conformava em perdê-lo. Eu não aceitava. Tanto que eu acreditei no hospital que eles iam salvá-lo e no velório eu pedia que Jesus o ressuscitasse, assim como fez com Lázaro. Eu acreditava que ele podia sim se levantar daquele caixão. No UPA, quando cheguei com ele, eu não quis aceitar o que Deus tinha preparado pra mim. Eu sei que temos que aceitar, mas naquela hora eu não conseguia. Lá eu esperneei, gritei, rezei e exigi que Deus fizesse algo”.

                                                          A família de Renata

Essa mãe e mulher que amava fazer seus bolos e ficar olhando para a carinha linda dos filhos, passou pelo pior pesadelo de uma mãe. Eu falei que a frase do filme “Minha Mãe é Uma Peça” é umas das mais reais que eu já escutei sobre maternidade (“Toda vez que uma mãe perde um filho é como se todas as outras perdessem também”). “É exatamente isso. Eu vi a tristeza, a compaixão e a dó das pessoas com relação ao que tinha acontecido comigo, mas depois eu fui vendo que era pra acontecer como aconteceu. Deus já estava nos mostrando. Naquele dia o Otávio estava comunicativo, carinhoso, não quis comer, mas estava bebendo muita água. Estávamos no sítio dos meus pais, em Minas, passando as férias das crianças e o Cristiano veio antes para Serrana. Sem me dizer nada, ele começou uma pequena reforma na frente da minha casa (onde fica a piscina). Quando cheguei, achei aquilo o máximo porque aquela reforma sempre foi um sonho pra mim. Chamei o gesseiro pra fazer uma sanca na sala e ele disse que iria no domingo. Hoje, eu vejo como as coisas acontecem de maneira que não tem como evitarmos. Um gesseiro vir dar orçamento no domingo? Esse povo fica semanas enrolando a gente. Ele veio. Chamei o Cristiano que estava com as crianças na sala para discutir os detalhes do serviço por um minuto, quando ele se virou e foi atrás do Otávio, ele já estava boiando na piscina. Foi muito rápido: questão de trocar duas palavras. Ele fez massagem, respiração boca a boca e ia chamar o resgate. Eu preferi pegar uma mototáxi, que estava na frente da minha casa, para ir ao hospital com nosso pequeno no colo. Naquele dia, tinha médicos, enfermeiros e fomos atendidos muito rápido no UPA. Minha mãe chegou e ajoelhou pedindo pela vida do meu menino. Eu não queria que fosse feita a vontade de Deus. Eu queria que meu filho saísse com vida”. Renata, além da marca na alma, guarda a marca na pele. Ela foi ao hospital com a perna no escapamento da moto. A dor e o desespero era tão grande com que estava acontecendo, que ela nem sentiu que a perna estava em carne viva.

Otávio não resistiu. A hora da morte: 15h, do dia 15/01/2017. “Podem até falar que é coisa da minha cabeça, pode ser só coincidência, mas ele morreu do Dia do Senhor, na hora da Misericórdia. Ele tinha que ir, mas eu não me conformava”.

Renata não aceitava, se não fosse para ser o Otávio ela queria outro filho. Ela rezava, implorava, fez novena pra Santa Rita de Cássia. “A dor era tão forte que dava vontade de me esfaquear para ver se diminuía. Mas, eu queria viver. Eu tinha outro filho. O senhor sabe o quanto eu pedi. Eu não queria o Edu sem um irmão. Eu tinha certeza que o Henrique viria”. E, com quatro meses depois do pior momento de sua vida, ela se viu grávida novamente.

 

O MEDO NÃO PODE NOS IMPEDIR DE VIVER

Renata continua morando na mesma casa, com a mesma piscina, com o marido e seus dois filhos (eu sou apaixonada pelos dois. Fui professora do Dú e acho o Henrique uma figura – acredito que ele vai dar para a Comunicação- rsrs). Quando perguntei sobre como ela se sente em morar na mesma casa que tudo aconteceu e usar a mesma piscina vem a resposta que ensina muito covarde a levantar a cabeça e seguir adiante e faz eu me orgulhar em conhecê-la. “Eu tenho medo todos os dias. Medo não, pavor! Tenho medo que aconteça de novo a toda a hora, mas não posso passar isso para meus filhos. Não vou deixá-los parar de viver por conta do que eu sinto. Eles precisam viver. O Henrique ama água. Estamos sempre por perto, como sempre estivemos com o Otávio, mas Deus me mostrou e provou que eu tinha que viver tudo aquilo, mas que de forma alguma eu vou fazer minha família infeliz pelo que passamos. Sair da minha casa? É aqui que eu me lembro dele que ficava me olhando enquanto eu cozinhava, me lembro daqueles cachinhos lindos e do modo como ele nos fazia feliz. Eu pedi pra Deus para esquecer da imagem dele morto e eu não consigo lembrar. Só consigo lembrar do rosto dele vivo”.

MÃE, MULHER E EMPRESÁRIA

Vocês acham que foi fácil arrumar um horário pra entrevistar essa mulher? Não foi. A agenda dela é super lotada com compromisso com as crianças, com a casa e com a confeitaria. Ela tem uma mão divina pra fazer bolos e doces, uma outra qualidade herdada pela mãe. A mulher não para! Como o filho mais velho treina futebol (porque ele é um goleiro muitoooooooooooo bommmmmm), ela tem que levá-lo aos treinos, nos jogos e nas atividades extras. “Não quero perder nada dos meus meninos. Eles estão crescendo e quero aproveitar cada minuto com eles. Ainda bem que tenho um marido maravilhoso e parceiro. Ele já chega em casa ajudando com os doces, com a limpeza da casa, ajudando na lição das crianças. Depois de tudo isso vocês vão me dizer que não é Deus com a gente? Isso é mais que prova que ele está em toda parte e cuidando de tudo”, diz.

“Eu fui muito feliz com meu marido quando éramos só nós dois, fui muito feliz quando só éramos eu, ele e o Dú. Fomos muito felizes eu, o Cristiano, o Dú e o Otávio e hoje somos muito felizes eu, meu marido, o Dú e o Henrique. Agradeço todos os dias pelos milagres que Deus me permitiu viver”.

 

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